Eu sempre fui sensível a acontecimentos estranhos, desde que eu era criança.
Eu sempre acreditei no paranormal, e o que aconteceu no meu apartamento me
confirmou isso.
A minha nova casa era esplendida, mas eu mal sabia que esse sentimento logo
passaria. Primeiro eu comecei a ouvir barulhos. Parecia que tinha alguma coisa
arranhando o meu armário por dentro, portas abriam e fechavam e passos pelos
corredores. Eu sabia que não estava sozinha, mas eu nunca imaginei que eu teria
que me preocupar com a minha segurança.
Quando tudo começou, eu pensei que não era nada demais. Então as coisas
começaram a acontecer mais regularmente e foram ficando cada vez mais
peculiares. Uma vez meu namorado foi para casa e foi assistir TV, enquanto eu
estava na cozinha. Ele falou que enquanto estava deitado vendo TV parecia que
tinha mais alguém na sala com ele. Um ar frio se concentrava em volta dele.
Então, do nada, uma mão deu um soco na cara dele. Ele levantou na hora e olhou
em volta, mas não tinha ninguém lá, só ele.
Uma semana depois, eu voltei para o apartamento depois do trabalho e ele estava
completamente revirado. Mas nada tinha sido roubado. Eu fiquei completamente
confusa. A policia veio e investigaram a minha casa, mas não acharam nada. Não
tinha sinal nenhum de entrada forçada e só eu tinha a chave do apartamento. Eu
cheguei a uma conclusão, eu estava sendo assombrada por um espírito que não
estava muito feliz.
Outro mês se passou sem que nada estranho acontecesse. Eu achei que as coisas
tinham se acalmado, mas então ele me atacou. Eu estava andando pelo meu
apartamento quando eu senti um vento gelado passar por mim e uma mão segurar o
meu ombro e me empurrar com tudo para trás. Eu não tinha idéia do que estava
acontecendo. Felizmente eu não me machuquei muito (a minha cabeça passou a
alguns centímetros da mesinha que tinha no meio da sala). A esse ponto eu já
comecei a me preocupar comigo. Eu já não me sentia segura em casa.
Então as vozes apareceram... "eu vou acabar com você" "eu quero cortar você". Eu
tentei muitas coisas: caminhadas, musica, yoga e outras atividades, mas nada
conseguia me distrair. EU não consegui me livrar daquelas vozes. A essa altura
muitas pessoas já tinham me aconselhado a sair do apartamento. No entanto, eu
estava curiosa demais. Eu já tinha ido longe demais. Eu ficava a noite inteira
acordada, prestando atenção em cada movimento que eu via no escuro, cada som que
eu ouvia pela casa. Eu estava obcecada! E não havia nada que eu pudesse fazer.
Sempre que eu ia para o depósito na garagem pegar ou guardar alguma coisa, as
vozes apareciam e ficavam cada vez mais nítidas. Eu segui elas até um quartinho
no fundo da garagem. Eu abri a porta e as vozes pararam de repente. Eu acendi a
luz e ela piscou algumas vezes e então apagou de vez. O quarto estava
completamente escuro. Eu abri mais a porta para a luz da garagem iluminar lá
dentro e entrei. Não havia nada de incomum com o lugar. Só algumas vassouras
velhas, alguns rodos, algumas caixas. Quando eu estava saindo eu vi uma sombra,
que na hora eu vi que não era a minha. Eu sai correndo e voltei para o meu
apartamento, e notei que tinha algo a mais nessa história toda que eu não sabia.
Eu comecei a falar com os outros moradores do prédio sobre o assunto, sobre o
que acontece dentro dele, mas sem ser muito direta. Um ou outro arriscou falar
alguma coisa, que também já tinha notado algo de estranho, até que um dia
finalmente um dos moradores mais antigos do prédio me falou algo. Ele me falou
que a um bom tempo atrás tinha acontecido um assassinato seguido de suicídio lá
naquele quartinho na garagem. Depois disso tudo se encaixou, e na minha cabeça
se formou uma tragédia esquecida. As vozes que eu ouvia eram a do assassino
perseguindo a vítima dele.
Pelo que esse senhor me falou, as duas pessoas que morreram eram um casal. O
homem acabou descobrindo que a mulher dele estava traindo ele e pretendia largar
ele, e fugir com o amante. Só que ela estava para pagar um preço muito caro por
isso. No desespero o homem acabou matando ela, e depois ele entrou em pânico e
acabou se matando também. Até os dias de hoje o assassino deve estar vagando
pelo seu mundo solitário e frio, lembrando das suas últimas palavras escritas em
um pedaço de papel que foi encontrado mais tarde na parede do depósito "Se eu
não posso ter ela, então ninguém mais pode!"
Rafaela - São Paulo - S.P.